Grande parte de minha infância ocorreu numa pequena cidade do
interior paulista. Lá cresci ouvindo e lendo muitas histórias que meus avós e
vizinhos contavam ou escreviam em cartas sobre costumes peculiares de seus
ascendentes e da dura vida no campo.
Dessa infância rigorosamente
rural guardo imagens de um quintal cheio de árvores, muitas esquinas e de uma
pequena praça que, aliás, representava o único ponto de encontro da cidade.
Este cenário, contando, assim, parece ser monótono. Mas, não, cresci num ambiente
repleto de crianças arteiras correndo e brincando. E eu era um deles!
Antes mesmo de aprender a ler
livros e escrever grandes textos na escola, já mantinha contato com a leitura
dos adultos por meio das cartas que meus pais recebiam. Tarefa que, aliada à
vaidade infantil, colocava-me de certa forma útil para alguém mais velho.
Como meus pais eram
agricultores e mal sabiam ler, gostava de ajudá-los lendo as cartas que
recebiam de parentes distantes. Sempre que chegava uma correspondência,
acomodava-me sobre uma poltrona na sala e, pausadamente, lia as cartas para
eles. Embora meus pais fossem semi-analfabetos, acreditavam que assim fazendo
estariam proporcionando o gosto pela leitura e escrita, afinal, eles sabiam o
quanto era difícil não saber ler e escrever. E o desenvolvimento contínuo dessa
atividade fez nascer um novo talento a cada dia, a cada palavra que eu lia
naquelas cartas. E o que antes era um universo feito por obrigação como
"tarefa escolar" passou a ser uma forma habitual de lazer, e não uma
imposição dos pais.
Enfim, creio que isso me ajudou,
desde cedo, a enxergar o quanto é importante ter um estudo.
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