quinta-feira, 6 de junho de 2013

Depoimento sobre leitura: José Nelson

Grande parte de minha infância ocorreu numa pequena cidade do interior paulista. Lá cresci ouvindo e lendo muitas histórias que meus avós e vizinhos contavam ou escreviam em cartas sobre costumes peculiares de seus ascendentes e da dura vida no campo.
Dessa infância rigorosamente rural guardo imagens de um quintal cheio de árvores, muitas esquinas e de uma pequena praça que, aliás, representava o único ponto de encontro da cidade. Este cenário, contando, assim, parece ser monótono. Mas, não, cresci num ambiente repleto de crianças arteiras correndo e brincando. E eu era um deles!
Antes mesmo de aprender a ler livros e escrever grandes textos na escola, já mantinha contato com a leitura dos adultos por meio das cartas que meus pais recebiam. Tarefa que, aliada à vaidade infantil, colocava-me de certa forma útil para alguém mais velho.
Como meus pais eram agricultores e mal sabiam ler, gostava de ajudá-los lendo as cartas que recebiam de parentes distantes. Sempre que chegava uma correspondência, acomodava-me sobre uma poltrona na sala e, pausadamente, lia as cartas para eles. Embora meus pais fossem semi-analfabetos, acreditavam que assim fazendo estariam proporcionando o gosto pela leitura e escrita, afinal, eles sabiam o quanto era difícil não saber ler e escrever. E o desenvolvimento contínuo dessa atividade fez nascer um novo talento a cada dia, a cada palavra que eu lia naquelas cartas. E o que antes era um universo feito por obrigação como "tarefa escolar" passou a ser uma forma habitual de lazer, e não uma imposição dos pais.
Enfim, creio que isso me ajudou, desde cedo, a enxergar o quanto é importante ter um estudo.

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